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  • Foto do escritorRebeca Hochman

Intercâmbio na Índia – Relato de Elisa Contrucci

Elisa Contrucci, que está desde fevereiro deste ano na Índia fazendo um intercâmbio através do Talentos Globais da AIESEC, compartilhou com a gente como está sendo essa experiência. Ela nos contou como foi o seu processo, o choque cultural, as verdades e os mitos sobre o país, os costumes e o que ela só descobriu quando chegou lá!


Confira o seu relato e algumas de suas fotos a seguir:

A decisão


Eu sempre quis fazer intercâmbio, mas sabia que para isso eu teria que bancar minha própria vontade. Eu acabei me formando, e usufrui do dinheiro que juntei viajando bastante, tanto fora quanto dentro do Brasil, mas eram todas viagens turísticas, nada de intercâmbio, a ideia foi ficando adormecida.


Foi então que conheci uma garota que foi fazer intercâmbio voluntário no Egito, achei muito diferente e fiquei interessada pela instituição, e foi assim que conheci a AIESEC. Depois descobri que eles não só tinham programas para voluntariado, como também um programa focado na área de formação de sua escolha. E foi assim que decidi. Escolhi fazer parte do programa Talentos Globais na minha área de formação.


A AIESEC foca em países em desenvolvimento, ou seja é muito difícil você achar vagas para países de “primeiro mundo”, a maioria das vagas são pertencentes aos BRICS, ao continente africano e poucas e restritas ao Leste Europeu.


Eu lembro que tudo para mim, todo o processo da AIESEC aconteceu muito rápido, e geralmente as pessoas levam um bom tempo para estar dentro dos programas. A média de espera é de 6 meses a um ano e comigo aconteceu tudo em 3 semanas.


Na primeira semana foi minha entrevista na AIESEC, na segunda semana 2 empresas das quais me candidatei me entrevistaram, na terceira semana eu estava na 3ª e última fase de uma dessas empresas e dias depois recebi notícia que tinha sido aprovada.


Aconteceu tudo tão rápido que a ficha não tinha caído direito, eu demorei duas semanas para decidir se ia vir ou não. Duas semanas sofridas, porque o lugar era a Índia, então foram duas semanas que a mídia, amigos e familiares estavam me botando muita pressão e medo sobre.


Eu vim com medo mesmo, essa é a verdade.

O choque cultural


Estamos falando da Ásia, o choque, ou melhor, o soco na cara da diferença de tudo é muito grande o tempo todo. Costumo falar que a Ásia não pertence a Terra, para mim estou em outro planeta. E eu adoro sentir isso. Adoro não me sentir em casa, odeio quando tem um cheiro ou um gosto familiar, eu quero mesmo é arregalar os olhos e ficar chocada. E acredite, aqui tenho overdose de choque cultural o tempo todo.


Trabalho numa empresa que promove acampamentos para crianças e moro com uma indiana. Eu adoro morar com ela, com certeza se eu não estivesse nessa casa, as experiências que estou adquirindo não só sobre a cultura, mas também sobre a culinária não seriam a mesma. Sou muito grata por essa oportunidade. Meu trabalho também é muito legal e as pessoas idem, tive sorte com essas duas áreas: trabalho e acomodação.


A rotina aqui é como em qualquer outra megalópole. Vivo em Delhi, passo 30 minutos dentro do metrô até o trabalho e no trabalho a briga do ar condicionado se repete (tudo bem que está 45ºC lá fora, mas não precisa estar -45ºC dentro).


Eu saio muito aqui, muito! De quarta a domingo estou na rua. Nunca estive tão exausta em todo minha vida, mas também tão feliz. Aqui tem uma comunidade enorme de estrangeiros. E a verdade é que somos tratados como reis aqui. Eles têm preconceito com o próprio povo, então não gostam de nativos dentro dos estabelecimentos, eles querem mostrar que a balada e o bar são frequentados por estrangeiros, então tem convite de segunda a segunda para tudo o que é tipo de festa de graça. Sem contar as inúmeras noites em que rola o “ladies’ night”. Estou aqui há pouco mais de 3 meses e não teve uma única vez em que paguei para entrar ou beber em alguma festa. Vida de rei!

Verdades e Mentiras sobre a Índia e os indianos


Bom, antes de eu vir para cá ouvi um monte de barbaridade, em partes algumas são verdades, outras só rindo mesmo. Aí vão algumas:

  1. Mulher não anda na rua depois das 8 da noite – mentira, tem um monte de mulher circulando ainda nesse horário na rua.

  2. O sabor da Índia é o curry – eu gostaria muito de saber de onde veio esse mito, porque antes de vir para cá eu realmente achava que era esse o sabor da índia, mas a verdade é que o sabor da Índia é o tempero chamado Masala. Tem em tudo tudo, até com leite eles bebem esse Masala. E quanto ao curry, até agora não comi curry aqui.

  3. Simpatia aqui é sinal de interesse – é verdade, você não pode ficar abrindo sorriso toda hora aqui, do contrário eles entendem como um sinal que você está com segundas intenções com eles.

  4. Não usam papel higiênico – é verdade. Maioria dos banheiros não tem, é um chuveirinho ao invés do papel.

  5. Indianos não bebem – esse é a maior mentira de todas que ouvi. Eles bebem o tempo todo e a todo o momento, é difícil de acompanhar.

  6. Aqui não tem carne – é bem difícil de encontrar carne de vaca aqui, e se você encontrar você vai pagar uma fortuna. Mas frango e carneiro são super comuns, tem em cada esquina.

  7. Os homens sentem atração por mulheres brancas – verdade. Na verdade até as mulheres são preocupadas em “serem brancas”, você encontra cremes e vê propaganda de produtos para clarear a pele em toda parte.

  8. Casamento arranjado é coisa dos velhos tempos – não, de jeito nenhum, isso é super sério aqui e continua bem forte. Só no escritório que trabalho apenas um casou por livre escolha.


Coisas que descobri quando cheguei aqui


  1. Mulher que não depila o braço é mal vista e não arranja marido – já fui questionada por homens e mulheres o por quê não tiro o pelo do braço. Quando respondo que no meu país isso não é comum, eles ficam chocados.

  2. Se você não come tudo do seu prato é sinal de desrespeito.

  3. Se você não aceita comida quando eles te oferecem também é sinal de desrespeito.

  4. Se você beijar na boca em público você pode ir preso e ter de pagar uma multa.

  5. É normal um homem acariciar outro homem de maneira afetiva (bem afetiva, acreditem), mas se fazem isso com mulher é mal visto. Homens aqui andam de mão dada e fazem carinho um no rosto do outro o tempo todo.

  6. Aqui existe a cultura de compartilhar a comida que se come, então é super normal alguém enfiar a mão no seu prato enquanto você está comendo.

Estou amando essa louca e intensa experiência e não tem outro lugar que eu gostaria de estar.


Foto: Elisa Contrucci
Macaco na Índia
Foto: Elisa Contrucci
Elefante na Índia
Foto: Elisa Contrucci
Foto: Elisa Contrucci
Crianças indo à escola na Índia
Foto: Elisa Contrucci
Foto: Elisa Contrucci
Foto: Elisa Contrucci

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